Faustino José dos Santos é o nome completo do fundador da Comunidade Quilombola Nova Esperança, situada no município de Wenceslau Guimarães – BA. Porém, ele nasceu no sertão da Bahia, em 1875, filho de pai e mãe escravizados. Teve uma irmã chamada Maria Diolina. Apesar de ter nascido depois da Lei do Ventre Livre, desde muito cedo trabalhava com seus pais como cortador de cana na condição de escravo.
Quando completou vinte anos, receberam o convite do líder Antônio Conselheiro para morar em Canudos, arraial situado ao norte do estado, considerado pelos historiadores como sendo o último dos grandes quilombos. Com a deflagração da Guerra de Canudos (1896-1897), Faustino fugiu do conflito mais importante do período republicano brasileiro, a pé, carregando seus pertences em sacos nas costas.
O negro sertanejo Faustino foi um dos poucos sobreviventes da famigerada guerra. No trajeto da fuga, caminhou cerca de 420 km até chegar à Fazenda Lagoa do Morro, no município de Brejões. Lá, conheceu Antônia Maria de Jesus com quem se casou.
Trabalhou em várias propriedades até chegar em outro município baiano, Castro Alves, na região do Recôncavo, lugar onde fez pouso em uma fazenda chamada Sururu de Queiroz¹. Ali o casal permaneceu por alguns anos e teve todos os sete filhos:
Por volta de 1915, uma grande seca castigou toda a região de Castro Alves. Então, Faustino e sua família passaram por grandes problemas financeiros e foram obrigados a migrar mais uma vez, Trabalhando ora como meeiro, ora como diarista, ele conseguiu juntar algumas economias e partir novamente a pé, com surracas nas costas, até Nova Esperança, como nos informa Matos (2017, pg. 44):
Partiram a pé, com surracas [sacos] nas costas e sandálias de couro nos pés, cortando poeira nas estradas e, com alguns dias de viagem, chegaram na região onde hoje situa-se Nova Esperança, moravam alguns posseiros no lugar, entre eles Manoel Calixto, com quem Faustino José dos Santos adquiriu as terras que constitui atualmente a comunidade em tela.
Faustino conseguiu amealhar recurso suficiente para comprar a porção de terra no Baixo sul da Bahia, originando a comunidade em questão. (MATOS, 2017; SANTOS, 2018; SANTOS, 2008). Quando Faustino chegou na nova propriedade, já havia pessoas morando no seu entorno, em casas de taipa com cobertura de palha. Aqueles moradores eram todos negros também. Faustino sentiu-se realizado nas novas terras por conta do sonho de ter um pedaço de terra própria e por isto ele nomeou o lugar de Nova Esperança, pois havia encontrado um lugar promissor. (SANTOS, 2018)
Antes de morrer, lavrou uma escritura de doação das terras para seus filhos. Faustino José dos Santos faleceu em setembro de 1960, cego e doente e foi o primeiro a ser enterrado no cemitério da comunidade.(MATOS, 2017)
Por: Cledineia Carvalho Santos: Licenciada em Letras Vernáculas (UESB), Licenciada em História (Uneb); Mestra em Cultura e Sociedade (UFBA) e professora da rede pública municipal de Jaguaquara/BA.
ASSIS, Viviane. “Aqui é tudo uma rama de maxixe”: experiências de trabalhadores rendeiros da Fazenda Engenho Sururu, Varzedo-BA (1970-2000). Dissertação (Mestrado em História).Universidade Estadual de Feira de Santana, 2013.
MATOS, Wesley Santos. Etnicidade, educação e reconhecimento de si entre as crianças quilombolas de Nova Esperança. Dissertação Mestrado em Relações Étnicas e Contemporaneidade). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Jequié-BA, 2017.
SANTOS. Cledineia Carvalho. Comunidade Quilombola Nova Esperança: a mulher na construção da identidade étnica. Dissertação (Mestrado em Cultura e Sociedade). Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2018.
SANTOS, Renan Silva dos.História da fundação de Nova Esperança. Vídeo Documentário, 28 min. Brasil, 2008. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gFhBdiMPtLU
Projeto conduzido pelo Grupo de Pesquisa NEABI do IF Baiano (CNPq), sob coordenação das docentes Dra. Nelma Barbosa e Ma. Scyla Pimenta, no âmbito do curso de Especialização em Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-brasileira na Educação (REAFRO) e do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (IF Baiano Campus Valença).
Contato: nelma.barbosa@ifbaiano.edu.br