Baixo Sul da Bahia: Território, Educação e Identidades

Ceramistas: Mestres/as do notório saber em Maragogipinho/Ba

Nas comunidades tradicionais, notadamente Maragogipinho, sobre a qual se debruça esse texto, os saberes ceramistas condensam-se nas experiências, habilidades, valores, práticas, vivências, lendas, atitudes, modos de relacionamento com sua ancestralidade e na disseminação da arte com o barro, que obedecem a padrões estabelecidos nas confecções de cada peça e que se tornam marcas específicas dos artesãos da localidade.

 

Nessa comunidade, os artesãos e artesãs se reconhecem estilisticamente, ademais de serem reconhecidos pela comunidade. As peças feitas manualmente trazem, em sua composição, a presença das mãos do mestre, repletas de saberes e fazeres artesanais, com características de pertencimento, de engajamento em manter viva a tradição do artesanato local. Os artesãos deste distrito se organizam em três funções características: os oleiros, artesãos responsáveis pela criação e comercialização das obras ceramistas; os santeiros, que são oleiros que se dedicam à produção de figuras sacras; e as brunideiras, mulheres artesãs que sobrevivem integralmente da arte de dar acabamento e pintar as peças de cerâmica produzidas pelos oleiros e santeiros.

 

Tem-se, na realidade, que a responsabilidade da promoção do patrimônio cultural (material e imaterial) de Maragogipinho sempre ficou a cargo dos ceramistas, que cotidianamente lutam e resistem para salvaguardar a cultura tradicional e popular da comunidade. Como sabemos, o artesanato é uma das manifestações de identidade de uma cultura, posto que é a arte do saber fazer, alicerçado pelo lugar, pelas tradições do local e pela cultura que ali se recria.

 

A arte ceramista de Maragogipinho foi aprendida pelos seus artesãos/artesãs através do contato e aprendizagem partilhada com seus familiares e ancestres. Os filhos e filhas dessa comunidade milenar e que agora são reconhecidos na comunidade como mestres e mestras ceramistas, que dominam os saberes tradicionais do barro, aprenderam observando e praticando com as pessoas mais próximas e que contribuem para que esta tradição permaneça viva.

 

Os mestres e mestras de Maragogipinho compreendem o universo do qual fazem parte e também ensinam, posto que cotidianamente reinventam e dialogam saberes de uma arte secular, se tomada como referência a chegada dos portugueses, e milenar, quando se evidencia a presença das marcas da nação indígena Tupinambá nos artefatos.

 

Logo, é possível, através das cerâmicas produzidas em Maragogipinho, levantar informações históricas, além das tradições existentes na região, presentes nos materiais utilizados para a confecção das peças, na fabricação dos utensílios, nas técnicas e habilidades desenvolvidas pelos Mestres e Mestras e também nos desenhos específicos existentes nas pinturas das peças tradicionais. Por fim, é comum, entre os artesãos e artesãs de Maragogipinho, trilharem caminhos de ensino-aprendizagem de distintas formas, mas a essência dessa aquisição está toda fundamentada na pedagogia artesã, porque cada tipo de peça confeccionada subentende maneiras diferentes de práticas que são adquiridas durante o processo de sistematização dos saberes e fazeres que faz de um(a) artesão/artesã um(a) mestre(a). É no amassar do barro que os Mestres e Mestras ceramistas criam as suas peças e as expõem, carregadas de simbologias e representatividades particulares deste lugar.

 

 

Quer saber mais?

 

NASCIMENTO, Luísa Mahin Araújo Lima do. Saberes e fazeres na construção social da maestria: um estudo dos mestres ceramistas da Bahia. Revista Inter-legere, Natal, n. 10, p. 81-100, jan./jun. 2012. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/interlegere/article/view/4213.

 

OLIVEIRA, Hismálei Santos de. Entre vasos de barro e poemas da terra: a literaperformance em práticas de leituras orais no ensino fundamental II. 2020. Dissertação (Mestrado Profissional em Letras) – Universidade Estadual da Bahia, Santo Antônio de Jesus, 2020. Disponível em: http://www.profletras.uneb.br/index.php/teses-dissertacoes/.

 

ROCHA, Ângela. Artesãos de Maragogipinho e Saubara vão buscar selo de qualidade para seus produtos com apoio da UFBA e governo estadual. [Entrevista cedida a] Fernanda Caldas. Edgardigital, Salvador, 9 abr. 2017. Disponível em: https://www.edgardigital.ufba.br/?p=2061.

 

SANTANA, Joseane Costa. No amassar do barro: saberes, escrevivências e (re) existências de mestres/as ceramistas de Maragogipinho, BA. 2022. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino e Relações Étnico Raciais) – Universidade Federal do sul da Bahia, Itabuna, BA, 2022. Disponível em: https://sig.ufsb.edu.br/sigaa/public/programa/defesas.jsf?lc=pt_BR&id=234.