Baixo Sul da Bahia: Território, Educação e Identidades
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O termo Guerém, deriva da palavra Kren que significa “cabeça” na língua Borúm – Botocudo (a mesma dos Krenak e Borúm Kren) ligada ao tronco linguístico Macro Jê. Esta etnia foi denominada ao longo da história por vários nomes a exemplo de: tapuia, aimoré e botocudo mas todas essas expressões eram usadas pelos povos do tronco Tupi ou pelos portugueses durante o período da colonização. É importante ressaltar que as elites das capitanias hereditárias por muitas vezes, utilizavam denominações genéricas para os povos “indígenas” a fim de legitimar o processo de invasão dos territórios originários, assim, estes informavam à coroa portuguesa que estariam sofrendo ataque daquele povo e assim utilizavam alguma das denominações listadas na guerra justa, tendo autorização para combater os nativos.
O aldeamento de São Fidélis é implantado por volta de 1720 nas proximidades do Rio Piau perto do local denominado Ybirussu (Ybyruaçu), segundo o relato de anciãos do Povo Guerém, o Aldeamento surge com a construção de uma igreja dedicada ao frei Fidélis que teria tentado celebrar três missas no território Guerém, sendo flechado na última delas, onde foi erguida a capela. O aldeamento de São Fidélis chegou até mesmo a ser elevado a freguesia vinculada a Cairu, ligada a Capitania Hereditária de São Jorge de Ilhéus, em 23 de maio de 1848 o território é elevado a distrito e em 10 de novembro de 1949 é anexado ao município de Valença- BA.
Atualmente o termo Aldeia de São Fidélis continua a figurar no município, assim como o distrito Guerém originalmente engloba diversas comunidades e povoados a exemplo de: Orobó, Jiquiriçá, Riacho das Pedras, Ybyrussu, Tukum Mirim, Derradeira, Gereba, Tatu, Una Mirim, Bonfim, Retiro, Três Jueranas, Três Missas, Formiga, Serra do Abiá, Riachão, Matão, Oteiro Alto, Riachão do Viático, Gameleira, Tacanha Mirim, Aldeia, Piau, Jacaré, Gendiba, Ouro Preto, Julião, Caboclo e Jussara, essas localidades hoje estão situadas não só em Valença como em municípios vizinhos emancipados posteriormente. Grande parte da população nativa originária da região instada, mantém vivas as tradições Guerém na área da produção artesanal, pesca, confecção de cestos, técnicas de caça, culinária, conhecimento sobre as plantas nativas, os astros, a lua e os rios.
No que se refere à memória, às histórias, contos, cantos e festejos vinculados às tradições impostas pela catequização, seguem sendo resguardadas por parte da população nativa. Dois notáveis exemplos são à festa de São Fidélis (24 de abril) e a de Nossa Senhora dos Remédios (16 de outubro), padroeiros católicos do Guerém. Esta última veio ainda na primeira metade do século XVIII, junto a um grupo Guerém que foi remanejado da Barra do Rio de Contas (atual Itacaré).
O Povo Guerém se mantém em retomada, realiza o Tarú Angry (dança do Toré), usa urucum e jenipapo para pintura e culinária, faz artesanato, mobiliza a Campanha em defesa do patrimônio Guerém: Valença-BA tem Aldeia, reivindica o cumprimento da lei 11.645/08 e da Educação Escolar Indígena a partir da Comissão Pedagógica Guerém, compõe o conselho gestor da Área de Preservação Ambiental da região, participa do movimento indígena baiano e figura na lista das etnias acompanhadas pela Fundação Nacional Indígena – FUNAI no Sul da Bahia.
Por: Pyrauna Jiquiriça Watu Kren; Ybyrá Ybyraçú Anté Kren; Sanhaçú Ybyraçú Tarú Kren; Tyngay Ybyraçú Watu Kren; Ybypotyrá Juerana Anté Kren, originários do Povo Guerém e integrantes do Coletivo Étnico Guerém, Valença – BA.
DIAS, Gentil. Depois do latifúndio continuidade e mudança na sociedade rural nordestina. Brasília: Universidade de Brasília, 1978.
DIAS, H. M. Economia, sociedade e paisagens da capitania de Ilhéus. Tese de Doutorado, Universidade Federal Fluminense. Niterói, Rio de Janeiro, 2007.
Projeto conduzido pelo Grupo de Pesquisa NEABI do IF Baiano (CNPq), sob coordenação das docentes Dra. Nelma Barbosa e Ma. Scyla Pimenta, no âmbito do curso de Especialização em Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-brasileira na Educação (REAFRO) e do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (IF Baiano Campus Valença).
Contato: nelma.barbosa@ifbaiano.edu.br
