Baixo Sul da Bahia: Território, Educação e Identidades

Orobó

Comunidade Orobó (Foto: Marcos Alexandre, 2024)
Comunidade Orobó (Foto: Marcos Alexandre, 2024)

Orobó é uma tradicional e importante comunidade rural situada no território Guerém, distrito da cidade de Valença, localizada no Baixo Sul da Bahia. Com uma população aproximada de 13 mil habitantes, Orobó é subdividida em diversas microcomunidades, entre as quais se destacam: Riacho das Pedras, Tarimba, Cascalheira, Dois Riachos, Rio do Meio, Pedra Branca, Comunidade de Tomé, Camisão, Paraná, Rio de Areia I e II, Tabuleiro de Jino, Kandimba, Comunidade de Braz, Bar da Gia, Bloquí, Rio Vermelho, Comunidade de Babau, Capela de São José e Rio do Engenho.

Rio do Sul, comunidade Capela de São José-Orobó (Imagem: Cleonilson Pereira, 2024)
Rio do Sul, comunidade Capela de São José-Orobó (Imagem: Cleonilson Pereira, 2024)
Rio do Engenho nas localidades Pastinho e Escadinha, no Orobó. Fotos: Carolina Menezes

Dentro da comunidade de Orobó, é identificada a histórica presença do povo indígena Guerém e de comunidades quilombolas como Candimba e Rio Vermelho, ambas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares. No entanto, outras comunidades tradicionais negras locais ainda necessitam do reconhecimento legal da sua remanescência de quilombo. Embora tenham sido alvos do racismo e do colonialismo europeu moderno, esses grupos resistiram, “existiram” e “re-existiram” diante da violência colonial, e, historicamente, produziram saberes, conhecimentos e epistemologias anti-coloniais e contra-coloniais em harmonia e equilíbrio com a natureza e suas formas de vida.

Casa de taipa, uma tecnologia ancestral africana na  comunidade Rio de Areia 1, Orobó (Imagem: Carolina Menezes, 2024)
Casa de taipa, uma tecnologia ancestral africana na comunidade Rio de Areia 1, Orobó (Imagem: Carolina Menezes, 2024)

Todos esses povos unidos contribuíram para a preservação de diversas práticas e costumes ancestrais que, na atualidade, são importantes para a economia de Valença e até mesmo para a região da Costa do Dendê, como o cultivo do dendê e da mandioca para a produção da farinha e do azeite, respectivamente, a prática da caça e pesca sustentável, a vasta produção artesanal, a arquitetura tradicional e o uso de ervas medicinais.

Resistindo aos ameaçadores projetos do agronegócio predatório, a economia de Orobó é predominantemente baseada na agricultura familiar, com a produção e cultivo de alimentos como farinha de mandioca, feijão, milho, amendoim, banana, hortaliças, legumes, manga, acerola, caju, aipim, inhame e batata-doce.

Melancia, mandioca e hortaliças são alguns produtos cultivados no Orobó. Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100007566678256
Dendê e a produção artesanal do seu azeite. Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100007566678256

Esses produtos são utilizados tanto para a subsistência das famílias quanto para a comercialização na cidade, sendo a principal responsável pela dieta diversificada e abundante verificada em toda Valença. Além disso, são cultivados guaraná, urucum, cacau, cravo-da-índia, seringueira e várias pimentas, produtos que são amplamente utilizados nas indústrias alimentícia, farmacêutica, da borracha e têxtil. O escoamento e o comércio de todos esses produtos movimentam a cidade de Valença, contribuindo significativamente para o desenvolvimento do município e de suas regiões vizinhas.


Os aspectos ambientais de Orobó incluem uma rica diversidade de fauna e flora. A região abriga várias espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, incluindo diferentes tipos de bromélias e orquídeas.

Flora da comunidade Orobó (Foto: Marcos Alexandre, 2024)
Flora da comunidade Orobó (Foto: Marcos Alexandre, 2024)

Em relação à fauna, é possível encontrar aves típicas da região, como tucanos e sabiás, além de mamíferos como macacos, preguiças e tatus, e répteis e anfíbios como cobras, lagartos e sapos. Essa diversidade contribui para a riqueza ecológica da área, tornando-a um habitat importante para a conservação e preservação da biodiversidade local.


No que tange à educação, a primeira escola de Orobó foi estabelecida em 1979, sendo a única instituição de ensino das primeiras séries a atender toda a comunidade na época. Antes disso, o processo de alfabetização dos moradores ocorria nas residências, realizado por familiares ou vizinhos que sabiam ler e escrever. Atualmente, a comunidade dispõe de 18 escolas de séries iniciais, um ginásio para os anos finais do ensino fundamental e um colégio de nível médio.

Escola Municipal Pastor Aniel da Silva Costa e Colégio Estadual Quilombola Onildo de Cristo. Fontes: Nelma Barbosa (2023) http://www.dendenews.com/2014/06/valenca-coisa-ficou-preta-no-colegio.html

A ampliação da oferta de educação formal tem aumentado as oportunidades não apenas para a população jovem, mas também para os adultos através do desenvolvimento da Educação de Jovens e Adultos (EJA). O desenvolvimento e a consolidação de uma educação formal baseada nos princípios de uma educação quilombola, que trabalhe a partir de projetos educacionais antirracistas, antissexistas e anticolonialistas que se nutram das próprias epistemologias, saberes e conhecimentos locais, podem reservar à população de Orobó um futuro mais próspero, no qual a dignidade humana e o desenvolvimento sustentável estejam acima de tudo.

 

Por: Carolina Menezes, pedagoga pela UFRB; Cleonilson Pereira, professor de História pela UFBA; Maria Regiane Vieira, pedagoga pela UNEB e Maurício Pinto, biólogo pela UNEB, moradores, professores e pesquisadores do Orobó.

 

Lucas Café, professor de História pela UFRB, mestre em História Social (UFBA) e doutor em História (UFMT). Foi primeiro professor e o primeiro Diretor da Escola Quilombola Colégio Estadual Onildo Raimundo de Cristo. Atualmente é docente do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).

 

Quer saber mais?

 

Aldeia Distrito Guerém

 

Subsistema Orobó I e II

 

“OROBO E O CINEMA DELAS”

 

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SUBSISTEMA EDUCACIONAL OROBÓ. Ata de Resultados Finais da Escola Municipal Pastor Aniel da Silva Costa, 1979.