ARTISTA
A artesã Mara de Boitaraca (Rosemara Souza Assunção) nasceu em 1974, na comunidade remanescente Quilombola de Boitaraca, onde vive e trabalha. Geograficamente, essa comunidade está localizada na zona rural do município de Nilo Peçanha (BA), na região do Baixo Sul ou Costa do Dendê. Dista aproximadamente 20 km da sede municipal e tem a piaçava (Attalea funifera Martius), palmeira nativa da região, como uma das principais fontes de renda.
Historicamente, Boitaraca se formou através da fuga dos negros escravizados do Engenho Mutupiranga. Para existência dessa localidade, os negros escravizados lutaram muito, sofreram e resistiram pela coexistência da comunidade, e até hoje, seus descendentes ainda lutam para permanecer e sobreviver em Boitaraca e não deixar que a cultura hegemônica tome conta e domine o lugar/ espaço de origem dos moradores da comunidade.
Mara de Boitaraca, como é popularmente conhecida, é artesã e possui o ensino médio completo. Ela fez o ensino fundamental onde nasceu e, ao concluir o 4º ano, mudou-se para outra cidade da região, Teolândia. Lá, matriculou-se no Colégio Estadual Líbia Tinoco Melo para cursar da 5ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Perto de concluir a educação básica voltou à comunidade de origem para trabalhar com a cultura da piaçava , em seguida casou e não teve como dar continuidade aos estudos.
A artesã aprendeu o “ofício” do artesanato de piaçava com seus pais porque era o único meio de sobrevivência da comunidade. Seus pais a ensinaram e ela repassou seus conhecimentos aos filhos e netos. Suas criações principais são: vassouras, pentes para cobertura de quiosque, boneca do tipo baiana, confecção da barba da boneca, pente de piaçava, confecção de biojoias, porta-pão, porta-biscoito, porta-planta, porta-jarro, porta-joia, porta-panela (sousplat), porta-copo, porta-prato, decoração para mesa e parede… Tudo é executado com o apoio do coletivo, seja na divisão de tarefas como a colheita da palmeira, seja no tratamento ou armazenamento de objetos na sede da Associação Quilombola de Boitaraca.
As ferramentas necessárias usadas neste trabalho são diversas: bota, facão, tábua com oito pregos, sendo esta última conhecida como “pente”. Esses instrumentos são os principais, mas não os únicos, porque utilizam animais para transporte, acessórios dos animais, bainha de facão, faca, pedra de amolar, entre outros.
Todas essas atividades giram em torno da cadeia produtiva da piaçava, perfazendo um ciclo, que inicia no plantio até a venda dos produtos. A comercialização se dá principalmente em feiras livres ou temáticas e eventos.
Artes produzidas pela artista
Por: Jonas da Silva Santos – Pedagogo, especialista em Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-brasileira na Educação (IF Baiano) e mestrando em Gestão e Tecnologia (UNEB); Coordenador Pedagógico em Muniz Ferreira (Secretaria da Educação do Estado da Bahia).
Depoimento Dona Mara, Quilombo Boitaraca
SANTOS, Jonas da Silva. ENTREVISTA: Mara de Boitaraca. 2020. Trabalho apresentado para requisito parcial para aprovação na Disciplina Artes Negras da Especialização Lato Sensu em Relações Étnico Raciais e Cultura Afro-Brasileira na Educação, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano), Campus Valença.
FERNANDES, Mille C. R. MBAÉTARACA: uma experiência de educação de jovens quilombolas no município de Nilo Peçanha/BA. 2013. Disponível em: <https://formacce.ufba.br/sites/formacce.ufba.br/files/dissertacao_mille_caroline_rodrigues_fernandes.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2023.
VIDAL, Rogério Lima; FERNANDES, Mille C. R. Quando se entra na floresta: cultura, memória e tradições orais como estratégias inovadoras na Educação das crianças do Mucambo e de Boitaraca. In: III Encontro Baiano de Estudos da Cultura – EBECULT . 2012, Cachoeira – BA. Anais… Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Disponível em:< https://www2.ufrb.edu.br/ebecult/wp-content/uploads/2012/04/Quando-se-entra-na-floresta-cultura-memoria-e-tradição-orais-como-estrategias-inovadoras-na-educacao-das-crianças-do-Mucambo-e-de-Boitaraca.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2023.
Projeto conduzido pelo Grupo de Pesquisa NEABI do IF Baiano (CNPq), sob coordenação das docentes Dra. Nelma Barbosa e Ma. Scyla Pimenta, no âmbito do curso de Especialização em Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-brasileira na Educação (REAFRO) e do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (IF Baiano Campus Valença).
Contato: nelma.barbosa@ifbaiano.edu.br